Ao analisar uma ação, é comum se pensar que paga mais dividendo aquela empresa com o maior dividend yield (DY). Mas, isso não é necessariamente verdade.
DY é um número que indica o resultado da divisão do valor dos proventos distribuídos ao longo do ano pelo valor da cotação atual.
Para que esse indicador signifique algo prático para você, é necessário que você tenha comprado a determinada ação há exatamente doze meses e tenha comprado ao mesmo preço em que a ação está sendo cotada nesse momento. Parece pouco útil, não é mesmo?
Há alguns problemas com esse indicador. Se você está comprando a ação agora, a cotação está correta, contudo, você não tem como saber quais serão os dividendos distribuídos pela empresa no próximo ano, e muito menos nos próximos. Se você comprou há doze meses, os valores distribuídos estão corretos, porém, é muito provável que você tenha comprado esta ação a um preço diferente deste negociado agora.
E agora, como superar esses problemas? Qual indicador eu devo checar no lugar do DY?
Primeiramente, não há indicador que preveja o futuro. Não há como saber quanto dividendo será distribuído por uma companhia no próximo ano, muito menos nos próximos.
Por outro lado, empresas pouco endividadas, com mais dinheiro em caixa do que dívida, e que apresentem um histórico sólido de pagamento de dividendos, tendem a, pelo menos, manter o valor absoluto de dividendos do exercício anterior. Isso dá um norte ao investidor, mas a pandemia nos mostrou que cenários adversos podem surgir, e o futuro é sempre imprevisível.
Já com relação ao problema da cotação, a solução existe e é muito simples. Basta calcular o dy específico de cada investidor, de acordo com o preço médio que ele pagou em suas aquisições. A esse indicador, muito mais prático, dá-se o nome de yield on cost (YOC).
Se ficou confuso, vamos ao exemplo.
Alguns anos atrás, João estava indeciso entre comprar ações da empresa IHCS e ações da empresa ABCD. A empresa IHCS custava 10 reais/ação e pagava 1% de DY, ou dez centavos por ação, priorizando reinvestir o lucro na própria empresa. A empresa ABCD também custava 10 reais por ação, mas pagava 10% de DY, ou 1 real por ação. Parecia uma excelente pagadora de dividendos, já tinha uma grande fatia de mercado, então distribuía a maior parte do lucro para seus acionistas.
Hoje, a empresa que reinvestia seu lucro cresceu seu negócio, acertando em boa parte de seus investimentos. Como seria esperado, o preço da ação acompanhou tamanho crescimento, chegando a custar 200 por ação. Contudo, o DNA da IHCS é de crescimento, ela não abre mão de reinvestir a maior parte de seu lucro, de modo que continua com a política de 1% de DY, ou 2 reais por ação.
Já a empresa ABCD, que tinha bom nome no mercado, conseguiu aumentar sua receita no mesmo período, aumentando o preço dos seus produtos vendidos e mantendo a quantidade vendida, já que já tinha grande participação de mercado. ABCD hoje está negociada a 15 reais/ação, e também manteve sua política de distribuição de dividendos em 10%, ou 1 real e cinquenta centavos por ação.
Ambas as empresas pareciam boas empresas. João comprou as duas no passado. Mas, vamos ver como ficou a performance de distribuição de dividendos no momento atual:
IHCS manteve seu DY em 1%, contudo, seu YOC para o João, hoje é 20%. Já a excelente pagadora de dividendos, ABCD, manteve seu DY em 10%, porém, hoje, o YOC do João é de 15%.
Olha só o que aprendemos com a história
- Não necessariamente, a empresa que paga mais dividendos hoje é aquela que pagará mais dividendos no futuro. Empresas que hoje são de crescimento podem se tornar boas pagadoras de proventos lá na frente;
- Enquanto DY correlaciona os dividendos do último ano com o preço atual da ação, o YOC correlaciona os mesmos dividendos com o valor que, de fato, o investidor pagou na compra do ativo;
- Pagar um preço baixo em boas empresas de crescimento pode ser um excelente meio para obter um YOC formidável no futuro. Naturalmente, essa não é uma tarefa fácil, e merece um post exclusivo para discuti-la.
Forte abraço e sucesso!