Mão humana segurando o globo terrestre
Mão humana segurando o globo terrestre

Este é um post para todo investidor. Não apenas para aquele experiente, não apenas para aquele com grande capital, mas para qualquer investidor, desde o iniciante até aquele com muitos anos de mercado.

Isso porque investir fora se tornou muito acessível, prático e rápido. No presente momento, o mesmo tempo que você gasta para comprar uma ação da Petrobras, é o tempo que você gasta para comprar uma ação do Google, por exemplo.

Aquela marca mais desejada de telefones, aquela lanchonete na qual todo mundo vai, aquele refrigerante preto presente na casa de boa parte das pessoas. Sabe o que essas companhias têm em comum? Todas elas têm suas ações negociadas no exterior. Ou seja, para ser acionista delas, você precisa considerar investir fora.

Vamos então detalhar quais os motivos que podem te fazer considerar aplicações financeiras no exterior.

Diversificar risco de inflação

Risco de inflação parece um conceito complicado, mas dá para entender facilmente com a história a seguir:

John foi ao supermercado nos Estados Unidos, em janeiro de 1994, e conseguiu fazer suas compras gastando 100 dólares. Vinte e cinco anos depois, em janeiro de 2019, John retornou ao supermercado para comprar exatamente as mesmas coisas. John teve uma surpresa, pois precisou desembolsar 172 dólares para comprar os mesmos itens.

Aqui no Brasil, João fez o mesmo experimento. Ele gastou 100 reais no supermercado, em janeiro de 1994. Vinte e cinco anos depois, sabe quanto ele precisou gastar para comprar as mesmas coisas?

R$ 3.621,07

Isso mesmo, João teve de gastar mais de 3600 reais para comprar aquilo que, com 100 reais, ele era capaz de comprar há 25 anos.

Sabe o que isso significa? No período do experimento, o poder de compra do cidadão brasileiro foi reduzido 21 vezes mais intensamente que o poder de compra do estadunidense.

E olhe que o real foi a moeda brasileira de maior sucesso. Nem vou mencionar suas antecessoras.

Mas Italo, como eu poderia me proteger dessa desvalorização do dinheiro?

Existem muitas formas, umas mais eficazes, outras nem tanto. Uma delas é permitir que uma parte do seu patrimônio esteja lastreada em moeda forte: invista também fora do Brasil!

Diversificar risco legal

Símbolo da justiça e das leis
Símbolo da justiça e das leis

Às vezes, você liga a televisão no seu canal favorito, e recebe a notícia de que determinado setor será impactado por um incremento num imposto federal, que seus dividendos passarão a ser duplamente tributados, ou até mesmo sua poupança será confiscada. Soa familiar? Pois bem, todos os países estão sujeitos a mandos e desmandos de governantes egocêntricos, bem como estão sujeitos a medidas equivocadas tomadas por governantes incompetentes. Essa não é uma exclusividade do Brasil.

Mas, como você pode se proteger desse tipo de problema?

A verdade é que você não pode se proteger completamente. Contudo, é possível diluir esse risco, quando se investe em mais de um país.

Por exemplo, se você tem todos os seus investimentos concentrados em um país cujo governante decide tributar a distribuição de dividendos, isso significa que todo o seu capital será comprometido por essa decisão. Todavia, caso você tenha metade do seu patrimônio investido nesse país e metade em outro país, cujo governante não tenha tomado essa decisão, apenas metade do seu capital será impactado por essa medida.

Ao processo de investir em ativos sujeitos a diferentes ambientes regulatórios, dá-se o nome de diluir ou diversificar o risco legal.

Diversificar risco geográfico

O mundo é uma panela de pressão. Pode haver guerra no leste europeu, pode surgir um vírus mortal no sudeste asiático, podem ocorrer fortes enchentes no litoral da América do Sul ou tornados na América do norte. Desse modo, sempre há alguma região ou algumas regiões do planeta que se encontram passando por algum tipo de crise, com reverberações financeiras.

O que acontece com o investidor que tem todo o seu capital alocado em uma região que está passando por alguma crise?

 Certamente ele encontrará mais dificuldades para fazer seu capital crescer e gerar renda.

Novamente, não há como se blindar completamente contra esse risco, mas é possível diluí-lo investindo em diferentes regiões do planeta ou, pelo menos, investindo em empresas com linhas de receita oriundas de diversos países.

Ainda sobre esse tema, cabe recorrer à sabedoria milenar, citando o livro de Eclesiastes (capítulo 11, versículo 2), onde se recomenda aplicar o dinheiro em vários lugares e em negócios diferentes porque você não sabe que crise poderá acontecer no mundo.

Apesar de termos países com economias globalizadas e interdependentes entre si, eventos inesperados podem impactar diferentes países de formas distintas.

Por exemplo, imagine uma indisponibilidade de óleo no pré-sal. Certamente esse evento traria prejuízos à economia brasileira como um todo. Contudo, os demais países exportadores de petróleo, como Venezuela, Emirados Árabes e outros teriam suas economias beneficiadas, com a redução na oferta global dessa commodity.

Outro exemplo seria algum evento que limitasse a disponibilidade de fábricas chinesas. Certamente uma economia tão industrial quanto a da China sofreria bastante com esse choque. Contudo, outras economias industriais se beneficiariam com a redução de oferta, como Índia e Cazaquistão.

Enfim, já deu para entender que “colocar todos os ovos apenas numa cesta” pode ser muito perigoso. Agora falta saber como implementar essa diversificação na prática.

Formas de investir fora

ETFs no Brasil

A forma mais simples e limitada de investir fora é através de ETFs. Simples porque basta ter uma conta, em corretora brasileira, com uns 300 reais, que você já consegue comprar uma cota de um ETF famoso que investe no exterior. Limitada porque, ao comprar o ETF, você compra um bloco de participações em empresas diversas e não tem ingerência sobre quais empresas estarão nesse bloco.

Mas Italo, o que afinal é esse tal de ETF? Trata-se de um produto financeiro que contém uma cesta de outros produtos, como ações, títulos, moedas, etc. Tudo isso em um produto só. Seu nome deriva do inglês Exchange-Traded Fund, ou, numa tradução livre, fundos que são negociados em bolsa.

De forma resumida, as maiores vantagens dessa forma de investir são a facilidade: não é necessário criar uma conta no exterior para adquiri-los; e a diversificação microeconômica: comprar uma cota de um único produto já corresponde a comprar frações de ações de muitas empresas de uma só vez.

Já as principais desvantagens, de forma bem sintética, seriam o custo e a menor flexibilidade. O custo costuma ser muito pequeno, da ordem de 0,05% a 0,5% ao ano, dependendo da gestora do ETF. Já a menor flexibilidade, conforme já dito acima, significa que você não escolhe o que vem dentro desse bloco, ele já vem fechado para você.

Contudo, atualmente, já há 73 ETFs negociados aqui na bolsa brasileira (B3), ou seja, é muito provável que você encontre um fundo que se adeque bem à sua estratégia. Deixo abaixo o link para a lista de ETFs da B3:

https://www.b3.com.br/pt_br/produtos-e-servicos/negociacao/renda-variavel/etf/renda-variavel/etfs-listados/

BDR

Apesar de não serem nenhuma novidade, a maior parte deles apenas passou a ser disponibilizada para o investidor comum há menos de um ano. Então, dúvidas sobre essa modalidade de investimento são comuns.

Um BDR é um título negociado na bolsa brasileira que corresponde a uma ação ou a uma fatia de uma ação negociada em uma bolsa estrangeira. Seu nome vem do inglês Brasilian Depositary Receipt, ou certificado de depósito de valor mobiliário brasileiro, em tradução livre.

Hoje, há mais de 800 BDRs diferentes em negociação na B3 e, diferentemente dos ETFs, cada BDR, na maioria das vezes, é relativo a uma ação específica, não a um bloco de diferentes ações, o que permite ao investidor ser mais seletivo. Além disso, os BDRs, assim como os ETFs, permitem ao investidor adquirir ativos estrangeiros sem a necessidade de abrir conta no exterior.

As desvantagens dos BDRs são a cobrança de taxas nos dividendos e a oferta menor de possibilidades, quando comparados às ações de empresas estrangeiras (stocks).

Na primeira desvantagem, o que ocorre é que a instituição que disponibilizou os BDRs precisa ser remunerada de alguma forma pelo serviço que está prestando. A forma encontrada foi a de reter uma parte dos dividendos pagos pelas empresas que são objeto do BDR.

Na segunda, apesar de 800 BDRs parecer uma quantidade muito grande, somente o mercado americano apresenta aproximadamente 6.000 stocks diferentes. Do ponto de vista legal, os BDRs são classificados e regulamentados através da Instrução CVM 332, de 04 de abril de 2000. Então, se você se interessou por essa classe de ativos, vale a pena conferir esse documento da Comissão de Valores Mobiliários.

Conta no exterior

Estátua da liberdade, em Nova Iorque
Estátua da liberdade, em Nova Iorque

Conta no exterior já foi um grande tabu. As pessoas achavam que era muito complicado e custoso abrir conta de investimentos fora do país. Contudo, isso já não é mais verdade.

Já há banco brasileiro ofertando contas globais, através das quais é possível investir tanto no Brasil quanto no exterior. Além disso, há corretora estrangeira requerendo apenas documentos do Brasil para permitir a abertura de contas. Por fim, bem como essas duas opções, há diversas outras em que todos os trâmites para abertura de conta se dá de maneira online.

Podemos citar as múltiplas possibilidades de investimentos e o baixo custo como as principais vantagens dessa modalidade de investimento no exterior. A primeira delas se dá pelo fato de se ter acesso à totalidade, ou ao menos à maioria dos ativos do país em que se deseja investir. Já a segunda diz respeito ao fato de o investidor poder receber seus dividendos em sua integralidade e não ter que pagar um intermediário para fazer a gestão dos ativos. Como investidor internacional com conta no exterior, a única desvantagem que enxergo é alguns minutos a mais gastos na declaração de imposto de renda, todos os anos.

Considerações finais

Investir fora tem a ver com diversificar o patrimônio sob diversas óticas. Tem relação com proteger seu capital e, acima de tudo, com se expor a oportunidades diferentes de investimento. Nem sempre é possível traduzir uma palavra de uma língua para outra, mantendo seu sentido completo. Do mesmo modo, nem sempre é possível encontrar um equivalente local de uma empresa que opera e é negociada em outro país.

Além disso, há diversas formas de se investir fora. Todas elas muito práticas. Algumas são mais cômodas, outras são mais baratas. Estude, avalie o que mais se adequa ao seu perfil e “mãos à massa”!

Forte abraço e sucesso!

Por que investir fora?
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